segunda-feira, 10 de novembro de 2008

São Jorge, mais uma acampada


Era prá ser no Capão da Ursa, mas a chegada, regada por umas cervejas e um pãozinho com carne moída oferecido pelo Lourenço, nos deixou meio preguiçosos. Ficamos por ali, na churrasqueira da beira do rio. Neste momento só eu e a grande companheira de acampamento e de profissão, a Rosana. Fizemos um foguinho, comemos mais alguma coisa  e fomos dormir.
Armei a barraca menor, a grande seria meio complicada para o momento. No fim das contas, mais um problema técnico para resolver, quebraram-se duas varetas da armação. Mais uma barraca para manutenção.
Bom, antes de seguir, cabem algumas explicações. O Rio São Jorge é um dos belos rios que cortam os nossos campos. Este local, além do salto e do belo cânion, tem outras pequenas cachoeiras e piscinas naturais que permitem uma boa relaxada. Próximo ao salto existe também a possibilidade de se fazer escaladas e praticar o rapel. O Lourenço e a Mara são os proprietários  e mantém próximo ao rio um galpão ondem servem refeições e bebidas durante o fim de semana. Os pastéis são especiais. Há também várias mesas espalhadas pelo campo, onde se permite aos visitantes que se faça o tradicional churrasco. São cobrados quatro reais por pessoa para passar o dia e oito para quem vai acampar. 
Finalmente o Capão da Ursa, nome dado pelos escoteiros ao capão que fica do outro lado do rio, próximo ao local onde se deixam os carros. Basta uma subidinha e em 5 minutos estamos lá. Diferente da época de estudante, quando vinhamos de ônibus até a Vila D'Alcol e  caminhávamos cerca de duas horas para chegar até o rio. Sem contar as belas mochilas e toda a tralha de acampamento que levávamos nas costas. Mas como o tempo passa, a gente vai se adaptando e ir de carro torna o acampamento menos cansativo. Infelizmente esta comodidade nos torna um pouco folgados e, no meu caso, exagerado na quantidade de tralha e comida.
Cabe também uma explicação sobre o tipo de vegetação desta região, onde predominam os campos nativos e existem agrupamentos de árvores, geralmente em locais mais úmidos, onde predominam as araucárias. Capão (do tupi Ka'á pu'ã - mato redondo ) - "ilha de mato" - formação típica das florestas do Sul do Brasil consistente em um grupamento de vegetação arbórea umbrófita mista em relação à ampla campina, formada por gramíneas e ervas rasteiras, na paisagen do seu entorno. 
Quando começo a me preparar para o acampamento sempre fico pensando em todas as possibilidades e acabo levando muito material e comida. Vou iniciar um processo de simplificação 
para diminuir a tralha. Talvez um retorno às caminhadas e busca de locais um pouco mais distantes permitam esse aprofundamento. 
Até porque nesse local próximo ao galpão e às churrasqueiras, muitas vezes grupos de pessoas insistem em exagerar na altura do som o que em certos momentos torna a convivência uma coisa meio complicada. Vários companheiros deixaram de freqüentar esse local por causa desta situação.  É uma pena que as pessoas tenham esta postura egoísta, onde apenas a própria satisfação conta. Lamentável a atitude de quem procura um lugar tão bonito apenas para extrapolar no som e na bebida, deixando de perceber a existência dos pássaros, insetos, flores, e todos os sons da natureza.

capão de mato
os serranos


Capão de mato com linda e verde grama
Lugar que o angico e o cedro fazem morada
E olha a mutuca tira o rabo em tempo quente
E onde o vivente sempre encontra boa aguada
Capão de mato tráz abrigo contra o tempo
Dos temporais e dos dias de sol a pino
É verde mina de goiaba e de pitanga
Berço da canga que eu fiz para o brasino
É verde mina de goiaba e de pitanga
Berço da canga que eu fiz para o brasino

Capão de mato onde o pinheiro se levanta
E a sua taça oferece ao criador
O brinde pleno de ternura e de pureza
Frente à grandeza de tão raro explendor
Capão de mato que me deu cabo de relho
Me deu palanque, porteira, casa e galpão
Deu alegria de fazer por vez primeira
Numa clareira, sapecada de pinhão
Deu alegria de fazer por vez primeira
Numa clareira, sapecada de pinhão

Capão de mato segurança da peonada
De no inverno encontrar a proteção
Queimando lenha, grimpa e nó-de-pinho
Devagarinho no velho fogo de chão
Capão de mato onde o molito se esconde
Onde o sabiá canta versos com entono
Eu só espero que jamais haja ganância
De lá na estância perturbarem o teu sono
Eu só espero que jamais haja ganância
De lá na estância perturbarem o teu sono

Esta música ilustra bem o que o capão representa, também para a história e para a cultura da região.

No sábado chegaram a Carol, a Noemi e o Luis e o acampamento seguiu no mesmo ritmo, muita comida, algumas caminhadas, banho de rio, fogo, um pouco de fumaça e umas cervejinhas. Teve até Campari no sábado à noite, presente da Noemi.
No domingo ficamos por ali, fazendo comida e morgando. De ruim teve o som meio alto de alguns campistas mais preocupados com a própria diversão do que em curtir o lugar, o som dos pássaros e da natureza.
De sobra fica sempre a beleza do lugar, com algumas ressalvas, permitir o exagero no som, o plantio quase até a beira do rio, os pinus que proliferam no campo nativo, o barulho das motos quando chegam das trilhas. Infelizmente a grande maioria das pessoas que visitam o lugar não vem até o mesmo para curtir a natureza. Não gosto de saudosismo, mas lembro com carinho os tempos em que vínhamos a pé e ficávamos um fim de semana inteiro sem ver mais ninguém. Ouvindo só o barulho das cachoeiras, dos pássaros e do gado, que na época dominava o ambiente.
Como idéia fica a sugestão de acamparmos em alguns capões mais distantes, o que nos colocaria um desafio de diminuirmos a tralha e a comida, além de um maior número de caminhadas. Interessante no quesito mais saúde. Ou talvez fazer uns acampamentos durante a semana. Quem sabe, aos poucos recuperar a velha forma e caminhar mais.

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Rio São Jorge

Rio São Jorge
Cânion e salto

Rota das cachoeiras